sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Incoerências

Como é que uma pessoa que se diz religiosa (protestante, ou seja, cristã) pode - AO MESMO TEMPO - "caçar" marxistas?

Isso mesmo, eu disse "caçar". É o que está lá em uma comunidade do Orkut (http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=57889) que uma pessoa que eu conheço freqüenta (não posso mais chamar de amiga).

Não sou marxista nem fascista, então não sou caçadora nem caça, mas jamais "caçaria" um ser humano (nem animais)... (Até porque não sou vice-presidente dos Estados Unidos - hehehe.)

Mesmo que seja apenas uma metáfora para um "grupo que busca caçar, ridicularizar, humilhar e tirar um baita sarro de todos os seguidores da doutrina reducionista que é o marxismo" (está lá na definição da comunidade), acho a idéia muito estranha. E acho ainda mais estranho uma pessoa - que se diz - cristã se prestar a fazer parte de uma comunidade assim.

Tem horas que eu acho que estou vivendo em um mundo paralelo, pois não consigo ver coerência e humanidade em pessoas assim. Menos ainda religiosidade.

É por essas e outras que não sigo religião nenhuma. Tenho simpatia pela filosofia de uma ou outra, mas não consigo mais me ver participando de uma religião, freqüentando uma igreja ou ritual.

Aliás, este é um bom momento para eu explicar um dos motivos por que saí da igreja presbiteriana. Certo dia, estávamos em um grupo de orações e estudos. De repente, alguém resolve perguntar: "Como vocês agiriam se nosso grupo estivesse perdido em uma ilha deserta?" Ao que um dos presentes responde: "Eu agiria como Jesus".

Nossa! Vocês não imaginam a reação! Todos revoltados: "Você não pode agir como Jesus!", "Só Jesus pode ser daquele jeito!", "Como você ousa se comparar a Jesus?", "Que sacrilégio!" e outras pérolas...

Bom, se o próprio Jesus disse que deveríamos ser como ele, a resposta não poderia ser melhor. Mas não foi aceita - pelo contrário...

Enfim, isso (e outras coisinhas) me afastaram da igreja. Hoje, tenho minha religiosidade, mas não sou religiosa.

5 comentários:

Anônimo disse...

Nossa VIDA é a nossa verdadeira religião. Como vivemos, como trabalhamos, como tratamos as pessoas... A rewligião está dentro de nós. Conheço quem nunca freqüenta igrejas/templos/rituais mas apesar disso é muito mais "religioso" do que o fanático que não sai de sua igreja/templo/culto...

Roneyb disse...

Coelhinha... Houve um tempo em que eu seria capaz de explicar calmamente as incoerências da humanidade...

Hoje sou menos arrogante e tenho que admitir que esta transição que a nossa espécie atravessa é tão complexa que não sei dizer de onde ela nos tira e para onde nos leva! ;)

Em um primeiro momento eu diria que estamos saindo do pensamento supersticioso-religioso para uma filosofia-científica... Só que a grande maioria continua indo mesmo é da praia para a balada.

Claudio Costa disse...

Acho que, na medida em que o mundo fica globalizado, as pessoas vão se apegando às diferenças mais abstratas (antes, cada aldeia era uma aldeia e poderia ou não haver guerra entre elas...) Hoje, há comunidades para odiar qualquer tipo diferente ou amar qualquer coisa com que se identifique. Fundamentalismo besta, sô.

Anônimo disse...

Também tenho a maior dificuldade em aceitar dogmas e outras arbitrariedades das religiões institucionalizadas. Por isso venho criando minha própria religião, como uma grande pizza de massa judaico-cristã (fermentação cabalística), com mussarela de iaques do Tibet, com cobertura mezzo-zen-budista, mezzo-taoísta, acrescida de temperos filosóficos confucianos, ervas aromáticas hindus e pedaços de frutas da estação. Nossinhora, será que essa receita vai dar certo? ;)

Ah, e essa coisa de ser sacrilégio dizer que agiria como Jesus, credo! Essa "temência a Deus" das religiões cristãs me incomoda um bocado. É uma postura de covardia e passividade espiritual, aceitar uma doutrina sem jamais buscar as próprias respostas. A igreja cumpre uma função de paternalismo divino, premiando o fiel com graças por um lado e, por outro, emitindo regras, julgamentos e sentenças.
No fundo talvez eu inveje quem consegue se acomodar nesta confortável condição filial.Conheço um pouco de quase todas as religiões, me interesso e respeito muito, mas não consigo abraçar nenhum "pacote completo", excluindo os outros.
Talvez eu ainda me ligue a uma comunidade, um templo, um ritual, e vá adotando, na prática, uma religião como minha. Por enquanto ainda me sinto rebelde demais para isso.

Nossa, escrevi quase um testamento! :))
Não preciso nem dizer que adorei seu blog.
Beijos.

Anônimo disse...

Com certeza esta igreja presbiteriana era uma excessão dentre as milhares de milhares. Não só a presbiteriana, mas também as batistas, assembléias de Deus, quadrangulares, e outras, crêem que devemos imitar Jesus.
Isso não é uma opinião minha.
De fato conheço milhares de igrejas e suas doutrinas.
Uma das frases mais comuns e antigas no meio cristão evangélico é:
What would Jesus do?
O que Jesus faria?
Isso não só é um ponto básico da fé, como é a essência das pregações destas denominações.
Para confirmar, faça o download de softwares como o ZPoc, próprio para o compartilhamento de arquivos cristãos. Nele você verá vários milhares de pessoas conectadas ao redor do mundo compartilhando arquivos cristão. Em todos eles você verá esta constante "O que Jesus faria?" como um modelo de vida.
Confira as pregações e documentos que encontrar... mesmo os das mais diferentes denominações, tal como encontramos no ZPoc.
Para encerrar, gostaria de comentar um livro que tem este título: Em seus passos que faria Jesus?
Este livro é muito famoso e aborda exatamente o tema.